quarta-feira, 29 de novembro de 2017

2015:Odisseia no Espaço



Lisboa, Janeiro de 2015. A redacção estava em alvoroço. Definição dos novos rumos editoriais e aventuras. Sim, porque a revista era sobre Viagens. Odisseias, mais concretamente. Nome original, apadrinhado orgulhosamente pelo diretor Lourenço Matos. Na sua juventude foi jornalista cultural, mantendo sempre um gosto por grandes viagens. Apontava todos os seus roteiros, até um dia decidir criar um projecto jornalístico de raiz. Não demorou muito para que a revista fosse um sucesso.
Virgínia era uma jornalista na casa dos 30. Trabalhava nesta grande revista (ficou após um enfadonho estágio),  sempre à espera que o seu editor apostasse nas suas capacidades.
Era uma mulher alta, dentes aguçados, brancos, que raramente demonstrava. Apresentava olhos castanhos, tristes, postura desanimada, como que resignada com a vida. A timidez também não ajudava.
Escrevia nas horas vagas, sonhando encontrar o homem certo e não o conjunto de falhados que passaram pelo seu caminho. Apresentava uma certa dualidade de personas. Uma mais escura, certinha à espera da oportunidade do chefe para subir na carreira. Outra bem mais excêntrica, que se evidenciava na escrita de romances. Mas esse lado mais "libertador" era constantemente reprimido, deixando a jornalista presa nos seus sonhos.
Também não era estimulada pela família nem pelos poucos amigos que cultivava. Na realidade , tinha vergonha de partilhar os seus verdadeiros desejos.
-Virgínia, disse uma voz grave do interior do gabinete da direção.
-Sim, doutor Lourenço?
-No meu gabinete ,por favor.
Virgínia achou estranho. Em 10 anos como jornalista naquela publicação a sua rotina era a mesma, desde os seus tempos de estagiária. Participava na reunião da redacção, ficando com o trabalho que ninguém queria. Ou seja, pequenas noticias, contactos de agenda, marcação de viagens para os colegas, entre outras pequenas tarefas. Mas ao entrar para o gabinete uma súbita confiança envolveu-lhe.
-Bom dia doutor Lourenço. (mãos inquietas) Eu tive uma ideia , que tal apostar em viagens de solteiros que partem à aventura? Algo como 2015, odisseia no espaço? Eu poderia fazer um roteiro. Explorar o exterior mas também as emoções  do viajante.  O que acha?
E de repente olhou fixamente para o director. Passado uns segundos, só ouviu. Virginia, Virgínia, estás bem?
De repente uma lágrima saiu discretamente na sua face. Mais uma vez imaginou um diálogo e não conseguiu falar verdadeiramente num corajoso frente a frente.
-O que deseja?, disse, embaraçada.
Aqui tens mais marcações para tratares.
-Ok. Obrigada.
Virginia ia a sair quando sentiu uma interjeição do patrão.
-Ah e...Feliz Ano Novo.
Nunca uma expressão lhe soou tão cruel.

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